quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Depoimentos de pessoas que convivem com a deficiência auditiva

Creso João Santos Pinto - filho e pai de surdo

Nossa vida era normal e com a vinda do João continuou sendo. Sabia de muitos riscos que eram ocasionados pela rubéola, mas não o específico da surdez.
Já tive outro surdo na família. Meu pai ficou surdo pequeno devido a uma meningite e morreu bem antes de o João nascer.
Minha reação quando soube da surdez de João foi de surpresa, e achei uma ironia do destino ter outro surdo na família.
Procuramos nos adaptar à nova realidade e proporcionar ao João os atendimentos necessários a ele, e acho que fizemos tudo o que deveria ser feito.
Penso que diante de uma situação destas é necessário encarar com naturalidade o destino. É lamentável, mas o que se vai fazer?Observo que existe, na sociedade, um grande desconhecimento e uma grande ignorância sobre o assunto.
O surdo não desperta nas pessoas a real gravidade desta limitação, pois o surdo tem menos segurança que o cego, e isso é perigoso para eles, pois necessitam aprender com muita atenção. Viver desligado é condição sine qua non do silêncio. Por exemplo: se um cachorro rosnar atrás dele, ele vai ouvir? Se houver uma briga, um conflito, ele vai ouvir? Se está pegando fogo em casa ele nem escuta os gritos das pessoas. Eles precisam ser muito trabalhados, conscientizados sobre os problemas do mundo que os cerca.
A Língua de Sinais e a leitura labial são os únicos recursos que eles têm. Em se tratando de surdo total, é muito difícil para eles falarem, como é o caso do meu filho. Meu pai não era surdo total e falava, mas só ouvia quando gritavam no ouvido dele.
É preciso distinguir o grau de surdez para se definir o trabalho a ser aplicado, pois um é totalmente diferente do outro. O surdo total deverá ter um trabalho mais específico e especial.
Minha convivência com meu pai era difícil, pois as pessoas falavam e ele entendia tudo diferente. Quando ouvia uma palavra errada, ele repetia errado e as pessoas riam e debochavam dele. Ao atravessar a rua, os carros buzinavam e paravam em cima dele, e ele ficava irritado e brigava sempre com o motorista. Ele era muito teimoso e não gostava de usar aparelho
Fabio Antônio Barbosa - deficiente auditivo

Quando era criança, falava muito errado, e meus pais e familiares achavam bonitinho. Cresci, na escola não prestava atenção na aula, porque, não entendia nada que o professor falava, no ditado era um pavor, ficava 'grudada' na voz do professor para ouvir a palavra corretamente, mas perdia-a no meio do caminho, ficava pensando, porque tinha que ser assim, mas para mim era normal, pois não sabia o que estava acontecendo, passei para o colegial, e sempre no meu canto, continuava não entendendo nada, ouvia mas, não entendia nada, com isso perdi muitos ensinamentos. Fui para a faculdade, que horror, não entendia nada que os professores falava, ia para casa triste, pegava os livros e estudava tudo o que o professor havia esplicado, me formei com meus próprios méritos. Já trabalhando como profesor, o Diretor me pediu para fazer um exame com um médico especialista (otorrino) , pois o Estado exigia tal exame, foi quando descobri que eu tinha uma perda auditiva muito acentuada. Hoje, estou usando aparelho auditivo, e o que queria dizer é que se minha família, meus professores tivessem me observado, minha vida teria sido muito melhor em todos os sentidos.E que o meu depoimento não seja em vão, e que o governo possa levar mais informação para a escola, televisão e outros meios para que possa 'salvar' uma criança,pois eu vivi no meu mundo e só hoje depois de 30 anos é que pude ouvir o canto de um pássaro.

 Depoimentos extraídos do site do INES. (Instituto Nacional de Educação de Surdos)

 http://www.ines.gov.br/Paginas/depoim_fabio.asp

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