sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Educação Física adaptada para pessoas portadoras de necessidades visuais especiais

Profª Michele Pereira de Souza

Introdução
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cegueira é:
"Uma acuidade visual inferior a 3/60 (0.05) é considerado como cegueira ou uma perda equivalente do campo de vista no melhor olho com a melhor correção possível (categorias da deficiência visual 3.4 e 5 do CIE-10). Consiste na perda da visão dos arredores em que a pessoa se move".
As pessoas portadoras de cegueira precisam utilizar o Sistema Braile como principal meio de comunicação, pois só assim podem estar inseridas no processo ensino-aprendizagem e adquirir conhecimentos. Ainda de acordo com a OMS, "considera-se como uma visão subnormal uma acuidade visual inferior a 6/18 (0,3), mas igual ou melhor que 3/60 (0,05) no melhor olho com a melhor correção possível (categorias de deficiência visual 1 e 2 da CIE-10)". Algumas pessoas com visão subnormal necessitam de iluminação apropriada, auxílios ópticos, textos com letras ampliadas ou complementam as atividades com o alfabeto Braile. Uma estimativa da OMS em 1993 mostra que 10% da população brasileira é portadora de deficiência, sendo 0,5% portadores de deficiência visual, num total aproximado de 700 mil cidadãos.
Através da visão, o ser humano pode identificar e distinguir objetos, cores, formas, tamanhos e distâncias. Esse é um sentido de grande valor na captação de estímulos e projeções espaciais, facilitando o relacionamento do homem com o meio em que ele vive; exatamente por isso, na maioria das vezes, os cegos têm as suas relações pessoais comprometidas através da exclusão social, pois fogem do padrão de normalidade estabelecido. Obviamente essas pessoas poderiam ocupar um lugar digno na sociedade, uma vez que toda ação individual deve ser valorizada independente de raça, cor, credo ou necessidade especial.

A vez dos cegos na escola
Segundo Junior & Santos (2001) nos anos 60 houve expansão do ensino integrado, que aconteceu por ter sido incluída na Legislação de Ensino pela primeira vez no Brasil, um dispositivo referente à educação de Excepcionais - Lei de Diretrizes e Bases, 1971: "Artigo 88 - A educação de excepcionais deve, no que for possível, enquadrar-se no Sistema Geral de Educação, a fim de integrá-los na comunidade". Esse foi um grande passo para que acontecesse uma maior integração entre as pessoas ditas normais e as cegas, proporcionando a merecida igualdade de direitos e tentando findar o preconceito. Hoje em dia, há um grande apelo pela educação inclusiva; esperamos que esse movimento cresça e realmente "inclua" todas as pessoas portadoras de necessidades especiais.

A importância da Educação Física
A educação física enfatiza o conhecimento e domínio corporal e busca, através de atividades lúdicas e esportivas, servir como importante elemento de desenvolvimento geral, aumentando o potencial de experimentação corporal de situações de aprendizagem e de aquisição de conceitos básicos. Desenvolve a auto-confiança, a auto-iniciativa e a auto-estima, além de atuar como elemento facilitador de um desenvolvimento motor adequado e propiciador de situações de interação social.
Há algumas atividades comumente praticadas pelos deficientes visuais como: natação, judô, musculação, dança, recreação, atletismo, futebol, futebol de salão, xadrez, além de thorball e o goalball (modalidades esportivas que foram inventadas e desenvolvidas especificamente para pessoas portadoras de necessidades visuais especiais).
As pessoas cegas, especialmente as crianças, geralmente apresentam desempenhos inferiores nas áreas motora, cognitiva e afetivo-social. A defasagem apresentada não é própria da condição de cego, mas sim em função de um relacionamento familiar inadequado e, principalmente, é causado pela própria problemática da realização motora. A família, muitas vezes super protege a criança cega e isso dificulta seu desenvolvimento motor geral. Como já foi dito antes, quanto menos a criança cega interage fisicamente no ambiente, menos ela experimenta situações de aprendizagem, menos oportunidades ela tem de formar conceitos básicos, menos ela relaciona-se com o ambiente e com as pessoas e mais ela se fecha dentro do seu mundo particular e restrito pela falta de informações visuais.
Com relação ao domínio sócio-afetivo, freqüentemente apresentam medo de situações e ambientes desconhecidos, dependência, dificuldade de relacionamento e integração, insegurança, baixa auto-estima e auto-confiança. Já no campo cognitivo podemos observar limitação na captação de estímulos e dificuldade na formação de conceitos. Ainda tem um grande comprometimento na área psicomotora, principalmente pela impossibilidade de imitação que dificulta a aprendizagem e diferentes vivências motoras e sensoriais.
Sem dúvida a educação física é um importante aliado na interação social, no incremento das funções da inteligência e principalmente no desenvolvimento das condições motoras dos indivíduos cegos. Através de atividades lúdicas, podemos alcançar os 3 domínios e melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. As defasagens no desenvolvimento geral da criança cega, que se apresentam como estatisticamente relevantes, são mais acentuados na área motora. Estas se dão, não por um déficit anátomo-fisiológico inerente à criança congenitamente cega, mas sim pela limitação de experiências motoras em diversos níveis.
Os estágios de desenvolvimento motor da criança cega apresentam-se com freqüência as seguintes defasagens:

A chamada educação física adaptada ou especial consegue minimizar e otimizar esses problemas, se o trabalho for realizado por um profissional competente e habilitado. Ela utiliza o corpo da criança cega como instrumento. Partindo do conhecimento e domínio deste corpo, ela usa o movimento controlado como meio, o respeito absoluto a individualidade do aluno como estratégia básica, o prazer da descoberta de poder fazer como reforço, tendo como fins o embasamento e a potencialidade de seu desenvolvimento geral, buscando propiciar condições favoráveis à sua trajetória acadêmica e, futuramente, à sua emancipação social.
A criança portadora de necessidades visuais especiais tem absoluta necessidade de descobrir, conhecer, dominar e relacionar o seu próprio corpo com o ambiente e com as pessoas. Somente assim ela se identificará como ser inédito, formando o seu "EU", interagindo no ambiente e em seu grupo social, é uma etapa de seu desenvolvimento que não pode ser queimada. Essa criança necessita de ações que permitam construir uma nova postura em relação a sua realidade, superando os comprometimentos físicos e estabelecendo um comportamento de interação e integração com as pessoas e o mundo a sua volta.

Conclusão
É importante ressaltar o grande valor que a educação física adaptada ou especial tem, pois proporciona as pessoas portadoras de necessidade visuais especiais uma melhor qualidade de vida, socialização, bem-estar, treinamento dos sentidos, conhecimento do esquema corporal, além de outros estímulos e vivências que em outras atividades não seria possível.
Utilizar a educação física para promover e despertar as potencialidades de uma pessoa cega é muito mais do que gratificante, é um dever muito prazeroso.

http://www.efdeportes.com/efd111/educacao-fisica-adaptada.htm

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