sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Educação Física adaptada para pessoas portadoras de necessidades visuais especiais

Profª Michele Pereira de Souza

Introdução
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cegueira é:
"Uma acuidade visual inferior a 3/60 (0.05) é considerado como cegueira ou uma perda equivalente do campo de vista no melhor olho com a melhor correção possível (categorias da deficiência visual 3.4 e 5 do CIE-10). Consiste na perda da visão dos arredores em que a pessoa se move".
As pessoas portadoras de cegueira precisam utilizar o Sistema Braile como principal meio de comunicação, pois só assim podem estar inseridas no processo ensino-aprendizagem e adquirir conhecimentos. Ainda de acordo com a OMS, "considera-se como uma visão subnormal uma acuidade visual inferior a 6/18 (0,3), mas igual ou melhor que 3/60 (0,05) no melhor olho com a melhor correção possível (categorias de deficiência visual 1 e 2 da CIE-10)". Algumas pessoas com visão subnormal necessitam de iluminação apropriada, auxílios ópticos, textos com letras ampliadas ou complementam as atividades com o alfabeto Braile. Uma estimativa da OMS em 1993 mostra que 10% da população brasileira é portadora de deficiência, sendo 0,5% portadores de deficiência visual, num total aproximado de 700 mil cidadãos.
Através da visão, o ser humano pode identificar e distinguir objetos, cores, formas, tamanhos e distâncias. Esse é um sentido de grande valor na captação de estímulos e projeções espaciais, facilitando o relacionamento do homem com o meio em que ele vive; exatamente por isso, na maioria das vezes, os cegos têm as suas relações pessoais comprometidas através da exclusão social, pois fogem do padrão de normalidade estabelecido. Obviamente essas pessoas poderiam ocupar um lugar digno na sociedade, uma vez que toda ação individual deve ser valorizada independente de raça, cor, credo ou necessidade especial.

A vez dos cegos na escola
Segundo Junior & Santos (2001) nos anos 60 houve expansão do ensino integrado, que aconteceu por ter sido incluída na Legislação de Ensino pela primeira vez no Brasil, um dispositivo referente à educação de Excepcionais - Lei de Diretrizes e Bases, 1971: "Artigo 88 - A educação de excepcionais deve, no que for possível, enquadrar-se no Sistema Geral de Educação, a fim de integrá-los na comunidade". Esse foi um grande passo para que acontecesse uma maior integração entre as pessoas ditas normais e as cegas, proporcionando a merecida igualdade de direitos e tentando findar o preconceito. Hoje em dia, há um grande apelo pela educação inclusiva; esperamos que esse movimento cresça e realmente "inclua" todas as pessoas portadoras de necessidades especiais.

A importância da Educação Física
A educação física enfatiza o conhecimento e domínio corporal e busca, através de atividades lúdicas e esportivas, servir como importante elemento de desenvolvimento geral, aumentando o potencial de experimentação corporal de situações de aprendizagem e de aquisição de conceitos básicos. Desenvolve a auto-confiança, a auto-iniciativa e a auto-estima, além de atuar como elemento facilitador de um desenvolvimento motor adequado e propiciador de situações de interação social.
Há algumas atividades comumente praticadas pelos deficientes visuais como: natação, judô, musculação, dança, recreação, atletismo, futebol, futebol de salão, xadrez, além de thorball e o goalball (modalidades esportivas que foram inventadas e desenvolvidas especificamente para pessoas portadoras de necessidades visuais especiais).
As pessoas cegas, especialmente as crianças, geralmente apresentam desempenhos inferiores nas áreas motora, cognitiva e afetivo-social. A defasagem apresentada não é própria da condição de cego, mas sim em função de um relacionamento familiar inadequado e, principalmente, é causado pela própria problemática da realização motora. A família, muitas vezes super protege a criança cega e isso dificulta seu desenvolvimento motor geral. Como já foi dito antes, quanto menos a criança cega interage fisicamente no ambiente, menos ela experimenta situações de aprendizagem, menos oportunidades ela tem de formar conceitos básicos, menos ela relaciona-se com o ambiente e com as pessoas e mais ela se fecha dentro do seu mundo particular e restrito pela falta de informações visuais.
Com relação ao domínio sócio-afetivo, freqüentemente apresentam medo de situações e ambientes desconhecidos, dependência, dificuldade de relacionamento e integração, insegurança, baixa auto-estima e auto-confiança. Já no campo cognitivo podemos observar limitação na captação de estímulos e dificuldade na formação de conceitos. Ainda tem um grande comprometimento na área psicomotora, principalmente pela impossibilidade de imitação que dificulta a aprendizagem e diferentes vivências motoras e sensoriais.
Sem dúvida a educação física é um importante aliado na interação social, no incremento das funções da inteligência e principalmente no desenvolvimento das condições motoras dos indivíduos cegos. Através de atividades lúdicas, podemos alcançar os 3 domínios e melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. As defasagens no desenvolvimento geral da criança cega, que se apresentam como estatisticamente relevantes, são mais acentuados na área motora. Estas se dão, não por um déficit anátomo-fisiológico inerente à criança congenitamente cega, mas sim pela limitação de experiências motoras em diversos níveis.
Os estágios de desenvolvimento motor da criança cega apresentam-se com freqüência as seguintes defasagens:

A chamada educação física adaptada ou especial consegue minimizar e otimizar esses problemas, se o trabalho for realizado por um profissional competente e habilitado. Ela utiliza o corpo da criança cega como instrumento. Partindo do conhecimento e domínio deste corpo, ela usa o movimento controlado como meio, o respeito absoluto a individualidade do aluno como estratégia básica, o prazer da descoberta de poder fazer como reforço, tendo como fins o embasamento e a potencialidade de seu desenvolvimento geral, buscando propiciar condições favoráveis à sua trajetória acadêmica e, futuramente, à sua emancipação social.
A criança portadora de necessidades visuais especiais tem absoluta necessidade de descobrir, conhecer, dominar e relacionar o seu próprio corpo com o ambiente e com as pessoas. Somente assim ela se identificará como ser inédito, formando o seu "EU", interagindo no ambiente e em seu grupo social, é uma etapa de seu desenvolvimento que não pode ser queimada. Essa criança necessita de ações que permitam construir uma nova postura em relação a sua realidade, superando os comprometimentos físicos e estabelecendo um comportamento de interação e integração com as pessoas e o mundo a sua volta.

Conclusão
É importante ressaltar o grande valor que a educação física adaptada ou especial tem, pois proporciona as pessoas portadoras de necessidade visuais especiais uma melhor qualidade de vida, socialização, bem-estar, treinamento dos sentidos, conhecimento do esquema corporal, além de outros estímulos e vivências que em outras atividades não seria possível.
Utilizar a educação física para promover e despertar as potencialidades de uma pessoa cega é muito mais do que gratificante, é um dever muito prazeroso.

http://www.efdeportes.com/efd111/educacao-fisica-adaptada.htm

AÇÃO CRISTÃ VICENTE MORETTI


UMA HISTÓRIA DE FILANTROPIA:

A Ação Cristã Vicente Moretti foi fundada em vinte e quatro de junho de mil novecentos e sessenta e um (24/06/1961). É uma associação civil de caráter cientifico, filosófico, religioso, beneficente, educacional, cultural, de assistência á saúde, de promoção social, filantrópica, sem fim lucrativo, espírita, sem prazo de duração, com sede e domicilio á Rua maravilha, nº. 308, Bangu, Rio de Janeiro, RJ.

Tem por finalidade, habilitar, reabilitar pessoas portadoras de necessidades especiais, prestarem-lhes total assistência médica, especializada, Psicopedagógica e social. Atender a população carente portadora de necessidades especiais oriundas da comunidade em geral. Prestar aos carentes, comprovadamente, de acordo com a legislação vigente e disponibilidade financeira da Instituição, assistência social. Possibilitar internação na Instituição, daqueles considerados em estado de abandono, com o objetivo de impedir o agravamento de seu estado de saúde.

http://www.acvmrj.org.br/

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A educação de deficientes auditivos no Brasil

A história da educação de deficientes auditivos iniciou-se com a criação do Instituto de Surdos-Mudos, hoje é o atual Instituto Nacional de Educação de surdos (I.N.E.S.). Fundado em 26 de setembro de 1857, pelo professor surdo francês Ernet Hwet, que veio ao Brasil a convite do Imperador D. Pedro II para trabalhar na educação de surdos. No início, eram educados por linguagem escrita, articulada e falada, datilogia e sinais. A disciplina "Leitura sobre os Lábios" estaria voltada apenas para os que apresentassem aptidões a desenvolver a linguagem oral. Assim se deu o primeiro contato com a Língua de Sinais Francesa trazida por Hwet e a língua dos sinais utilizada pelos alunos. É importante ressaltar que naquele tempo, o trabalho de oralização era feito pelos professores comuns, não havia os especialistas. Assim a comunidade surda veio conquistando seu espaço na sociedade. Hoje podemos observar que os governos têm preocupado com a inclusão. De acordo com a Declaração de Salamanca (1994, p. 15).
(...) a expressão necessidades educacionais especiais refere-se a todas as crianças e jovens cujas carências se relacionam a deficiências ou dificuldades escolares. (...) Neste conceito, terão que se incluir crianças com deficiências ou superdotados, crianças de rua ou crianças que trabalham, crianças de populações remotas ou nômades, crianças de minorias lingüísticas, etnias ou culturais e crianças de áreas ou grupos desfavoráveis ou marginais.
Segundo o texto da Constituição brasileira, em seu artigo 208, fica também garantido "O atendimento especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino". A lei nº 9394/96, estabelece as diretrizes e bases da educação nacional procurando trazer a garantia de "atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino". Segundo o texto constitucional, na concepção da lei, a "educação especial" é definida no artigo 58, como "a modalidade de educação escolar na rede regular de ensino, para educando portadores de necessidades especiais."

Prevenção !!!

Qualquer bebê recém-nascido pode apresentar um problema auditivo no nascimento ou adquiri-lo nos primeiros anos de vida. Isto pode acontecer mesmo que não haja casos de surdez na família ou nenhum fator de risco aparente.
Por isto peça ao pediatra para fazer o Teste da Orelhinha quando seu filho nascer.

A Audição

A audição começa a partir do 5º mês de gestação e se desenvolve intensamente nos primeiros meses de vida. Qualquer problema auditivo deve ser detectado ao nascer, pois os bebês que têm perda auditiva diagnosticada cedo e iniciam o tratamento até os 6 meses de idade apresentam desenvolvimento muito próximo ao de uma criança ouvinte.

O diagnóstico após os 6 meses traz prejuízos inaceitáveis para o desenvolvimento da criança e sua relação com a família. Infelizmente, no Brasil, a idade média de diagnóstico da perda auditiva neurossensorial severa a profunda é muito tardia, em torno de 4 anos de idade (Ines, 1990).

Lembre-se de que ouvir é fundamental para o desenvolvimento da fala e da linguagem.

Texto extraído do site do INES. (Instituto Nacional de Educação de Surdos)

http://www.ines.gov.br/Paginas/prevencao.asp

Depoimentos de pessoas que convivem com a deficiência auditiva

Creso João Santos Pinto - filho e pai de surdo

Nossa vida era normal e com a vinda do João continuou sendo. Sabia de muitos riscos que eram ocasionados pela rubéola, mas não o específico da surdez.
Já tive outro surdo na família. Meu pai ficou surdo pequeno devido a uma meningite e morreu bem antes de o João nascer.
Minha reação quando soube da surdez de João foi de surpresa, e achei uma ironia do destino ter outro surdo na família.
Procuramos nos adaptar à nova realidade e proporcionar ao João os atendimentos necessários a ele, e acho que fizemos tudo o que deveria ser feito.
Penso que diante de uma situação destas é necessário encarar com naturalidade o destino. É lamentável, mas o que se vai fazer?Observo que existe, na sociedade, um grande desconhecimento e uma grande ignorância sobre o assunto.
O surdo não desperta nas pessoas a real gravidade desta limitação, pois o surdo tem menos segurança que o cego, e isso é perigoso para eles, pois necessitam aprender com muita atenção. Viver desligado é condição sine qua non do silêncio. Por exemplo: se um cachorro rosnar atrás dele, ele vai ouvir? Se houver uma briga, um conflito, ele vai ouvir? Se está pegando fogo em casa ele nem escuta os gritos das pessoas. Eles precisam ser muito trabalhados, conscientizados sobre os problemas do mundo que os cerca.
A Língua de Sinais e a leitura labial são os únicos recursos que eles têm. Em se tratando de surdo total, é muito difícil para eles falarem, como é o caso do meu filho. Meu pai não era surdo total e falava, mas só ouvia quando gritavam no ouvido dele.
É preciso distinguir o grau de surdez para se definir o trabalho a ser aplicado, pois um é totalmente diferente do outro. O surdo total deverá ter um trabalho mais específico e especial.
Minha convivência com meu pai era difícil, pois as pessoas falavam e ele entendia tudo diferente. Quando ouvia uma palavra errada, ele repetia errado e as pessoas riam e debochavam dele. Ao atravessar a rua, os carros buzinavam e paravam em cima dele, e ele ficava irritado e brigava sempre com o motorista. Ele era muito teimoso e não gostava de usar aparelho
Fabio Antônio Barbosa - deficiente auditivo

Quando era criança, falava muito errado, e meus pais e familiares achavam bonitinho. Cresci, na escola não prestava atenção na aula, porque, não entendia nada que o professor falava, no ditado era um pavor, ficava 'grudada' na voz do professor para ouvir a palavra corretamente, mas perdia-a no meio do caminho, ficava pensando, porque tinha que ser assim, mas para mim era normal, pois não sabia o que estava acontecendo, passei para o colegial, e sempre no meu canto, continuava não entendendo nada, ouvia mas, não entendia nada, com isso perdi muitos ensinamentos. Fui para a faculdade, que horror, não entendia nada que os professores falava, ia para casa triste, pegava os livros e estudava tudo o que o professor havia esplicado, me formei com meus próprios méritos. Já trabalhando como profesor, o Diretor me pediu para fazer um exame com um médico especialista (otorrino) , pois o Estado exigia tal exame, foi quando descobri que eu tinha uma perda auditiva muito acentuada. Hoje, estou usando aparelho auditivo, e o que queria dizer é que se minha família, meus professores tivessem me observado, minha vida teria sido muito melhor em todos os sentidos.E que o meu depoimento não seja em vão, e que o governo possa levar mais informação para a escola, televisão e outros meios para que possa 'salvar' uma criança,pois eu vivi no meu mundo e só hoje depois de 30 anos é que pude ouvir o canto de um pássaro.

 Depoimentos extraídos do site do INES. (Instituto Nacional de Educação de Surdos)

 http://www.ines.gov.br/Paginas/depoim_fabio.asp

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Obras digitalizadas para pessoas com deficiência visual

Alzer Augusto dos Santos disponibiliza livros digitais e artigos acadêmicos

Alzer perdeu a visão de um dos olhos aos 4 anos durante uma cirurgia, e mais tarde aos 14 anos perdeu a visão do outro olho devido descolamento de retina, causado por uma bolada enquanto jogava basquete.

Para se formar em Direito (UNIMES) e Pedagogia (Universidade São Marcos), e fazer pós-graduação em Fundamentos da Educação (Unimonte), Alzer Augusto dos Santos adquiriu um acervo de cerca de 15 mil títulos digitalizados na língua portuguesa, e agora disponibiliza esse catálogo para que pessoas com deficiência visual tenham acesso às obras.

As pessoas que se interessarem podem fazer o download aqui do catálogo de obras, e do catalogo de artigos. Para obter as obras basta enviar um email para alzer4@uol.com.br e fazer o pedido dizendo seu nome, Rg, email, e uma declaração dizendo que é pessoa com deficiência visual, ou de que faz parte de instituição que auxilia pessoas com deficiência visual. Os pedidos podem levar de 4 a 5 dias para envio.

http://saci.org.br/?modulo=akemi&parametro=25973

Entrevista com Armando Guimarães Nembri, co-autor do livro Ouvindo o silêncio: surdez, linguagem e educação, Editora Mediação, 2008

Como surgiu a idéia da parceria com Angela Carrancho para escrever o livro?

Acredito na Teoria da Sincronicidade, de Carl Jung, e na famosa frase “Deus não joga dados”, de Albert Einstein.

Comecei o Curso de Mestrado já com a preocupação de encontrar um Orientador que conhecesse, mesmo que minimamente, a Cultura Surda Brasileira. Por intermédio de alguns colegas de Curso, soube que uma das Professoras do Mestrado, a Professora Dra. Angela Carrancho, cuja Tese de Doutorado foi “Karytu”, um software concebido com o objetivo de criar um ambiente de aprendizagem que viabilizasse a “essência” bilíngüe, detinha, por motivos óbvios, algum conhecimento acerca do indivíduo surdo. Como o meu alarme interno disparou (e esse som eu escuto), eu soube que a Professora Angela seria a minha Orientadora. Não foi difícil convencê-la; “já estava escrito nas estrelas”.

Ao final da Dissertação, a Professora Angela conseguiu “tirar-me do eixo”. Ela perguntou, com muito carinho, “Armando, quer escrever um livro comigo?”. Eis, então, a “gênese” de “Ouvindo o Silêncio” que, espero, seja o primeiro de muitos...e na companhia de minha querida Professora, minha querida Orientadora.

De que forma a surdez influenciou no seu processo de aprendizagem e inclusão escolar?

Por mais paradoxal que seja, a surdez acelerou o processo de minha busca pelo homem inteiro que espero ser um dia. E hoje, sentindo-me apto a prosseguir nessa busca, acredito, sinceramente, que a surdez foi um presente para mim. De uma forma muito especial, esse presente deu-me uma visão do mundo em que vivemos (um mundo que inclui e exclui ao mesmo tempo) bastante particularizada e que, por intermédio das palestras motivacionais que venho proferindo, começo a relatar. Como feedback, a receptividade tem sido fantástica.

Com relação à inclusão, no meu tempo de “primário, ginásio, admissão e científico” (bom lembrar desses termos), não se falava nisso. Havia a apologia da “Escola Igual para Todos”. Mas a Escola não estava preparada para receber-me, não estava preparada para receber quaisquer portadores de necessidades educativas especiais. A incongruência do discurso com a ação era evidente. Minha família e eu tínhamos que lidar com essa incongruência da melhor forma possível; creio que conseguimos.

Quais os principais obstáculos encontrados por uma criança surda na escola de hoje?

Procurando sair do lugar comum (exemplos: (a) poucos Professores com qualificação específica (b) remuneração na razão inversa da imensa responsabilidade que um Professor de surdos tem (c) desconhecimento das autoridades acerca da causa surda (d) pouca expressão do indivíduo surdo no cenário da cidadania ativa), tenho um ponto de vista. Somos todos portadores de necessidades educativas especiais e vivemos em uma Sociedade excludente por natureza, uma Sociedade que consegue, inclusive, excluir o planeta onde vive. Deste modo, acredito que todas as nossas crianças, no que é pertinente ao aspecto educacional, estão passando por problemas quase que semelhantes.

Respondendo à pergunta, posso elencar alguns desses obstáculos (que são muitos). São eles:

• Ainda não temos, em minha opinião, uma Escola que, de fato e efetivamente, inclua. Para tal, primeiramente, é preciso gerar, na criança surda, a necessária confiança em quem a direciona para o futuro, a percepção de que, no aspecto educacional (tanto na Escola como na Família), vive uma atmosfera com “doses maciças” de amor e paciência.

• A abordagem pedagógica atual é moldada por “ouvintes”; os pesquisadores surdos (eles já existem) podem e devem ser consultados com relação à melhor condição de aprendizagem da criança surda.

• A não preparação de pais e familiares. Tal preparação é condição essencial para o desenvolvimento da criança surda em uma Sociedade “ouvinte”. A Escola precisa trazê-los para o seu cotidiano e, no passo a passo da vida escolar, inseri-los como agentes colaboradores da mudança da condição surda na Sociedade Majoritária. A implantação de Cursos, nas Escolas Especializadas em Surdez, para pais e familiares, amenizaria os problemas que se avolumam na “malha familiar”, em função do desconhecimento da causa surda.

• Comunidades surdas e “ouvintes” não se conhecem. O desconhecimento impede uma maior conscientização cultural, bem como impede a melhoria da comunicação entre as partes envolvidas. Crescer nesta conjuntura é desestimulante. A sensação de abandono, como se fosse isolamento, é grande.

• Escassez de programas educativos, lúdicos e de entretenimento na televisão brasileira apresentados com legendas; a criança surda brasileira precisa se familiarizar com a Língua Portuguesa. Crescer com a Língua Portuguesa ao mesmo tempo em que aprende a LIBRAS.

• A criança surda cresce em uma Escola que não garante a sua ascensão ao Ensino Superior, à Especialização, ao Mestrado e ao Doutorado (as condições do aprendizado são diferentes, mas nós disputamos em igualdade de condições com os “ouvintes” as poucas vagas disponíveis nos melhores cursos do país; lembro-me de uma certa frase, e que me faz pensar bastante acerca dessa discussão... “tratar com igualdade os desiguais nunca foi, não é e nunca será democracia”). O investimento na formação de pesquisadores surdos poderia proporcionar, a médio e longo prazo, uma mudança na condição cultural do indivíduo surdo e um encurtamento de seu caminhar rumo à efetiva condição de cidadão ativo.

De que maneiras o livro pode ajudar na criação de uma escola mais igualitária?

A nossa maior preocupação foi, e é, com a mudança da percepção social da Sociedade “ouvinte” acerca do indivíduo surdo. “Ouvindo o Silêncio” emite uma voz que pede, implicitamente, e o tempo todo, uma chance. Chance esta que adviria da expansão do olhar “ouvinte” sobre as nossas reais possibilidades. A chance de apostar na diferença para obter e fazer parte de uma Sociedade mais justa. Além disso, creio que “Ouvindo o Silêncio” pode contribuir não só com a melhoria do ambiente escolar, mas como também com a melhoria do discernimento e da postura “ouvinte” com relação a nós...surdos, à medida em que promove uma forte argumentação no sentido de que vale a pena investir em seres humanos que, apesar das “diferenças” a transpor, sabem que o problema não é, nunca foi e nunca será a sua condição, mas sim as escolhas que fazem no cotidiano de suas vidas.

“Ouvindo o Silêncio” pode ser considerado uma “autobiografia” ou “memórias”?

Sinceramente, não sei a resposta. Deste modo, acrescento meu ponto de vista que, acredito, elucidará a questão. Sou o autor do texto e protagonista da história (o que poderia evidenciar uma “autobiografia”), mas com toda a certeza não recontei todos os eventos que se sucederam ao longo de minha vida que, posso adiantar, foi, sob inúmeros aspectos, principalmente os afetivos e espirituais, “sui generis”... singular. Ao relatar minha experiência pessoal na vivência da surdez por mais de quatro décadas, procurei convencer o público leitor da viabilidade da inclusão do surdo, como cidadão ativo, no cenário social da Sociedade Majoritária, desde que sejam dadas as necessárias e óbvias condições para tal .

Por fim, considero o relato em “Ouvindo o Silêncio” como exemplo e como opção de luta vitoriosos.

http://www.jussarahoffmann.com.br/site/artigo.asp?id=14&pagina=1

Inclusão: não basta respeitar, é preciso valorizar as diferenças!

Jussara Hoffmann

Em que medida nossa sociedade é de fato inclusiva por princípio? Queremos e agimos de forma que nossas crianças e adolescentes se desenvolvam como pessoas diferentes? Valorizamos todos os dias seus sonhos, projetos, maneiras e tempos de viver e de aprender sobre as coisas? Observamos e aprendemos com eles sobre suas formas de se expressar, de se vestir, de pensar e de ser? Constituir uma sociedade inclusiva representa educar crianças e jovens para o contexto de diversidade que caracteriza a sociedade do século XXI, procurando aprender novos e especiais jeitos de educá-los e amá-los. Como seres humanos, somos diferentes. Essa é a nossa condição humana. Pensamos de jeitos diferentes, agimos de formas diferentes, sentimos com intensidades diferentes. E tudo isso porque vivemos e aprendemos o mundo de forma única, singular. Mesmo irmãos gêmeos e criados em condições semelhantes sentem e compreendem as situações cada um a sua maneira. Muitas famílias e escolas, entretanto, vêm sendo injustas com as crianças e jovens porque os comparam e exigem que se comportem, aprendam, gostem das coisas e das pessoas do mesmo modo – o que não é natural. A celebração da diversidade é um verdadeiro desafio. O modelo que pautou a educação no último século teve sempre por referencial a competitividade e a busca do padrão, da comparação, da classificação entre melhores e piores. Neste século, ao contrário, urge (re)valorizar a criação, a sensibilidade e o respeito pela dignidade humana para acabar com a miséria social gerada pelo espírito de competição que nos legou o passado. Dignidade é sinônimo de uma educação que leve em conta diferenças, desejos, reações, necessidades individuais sem impedimento de qualquer ordem (social, cultural, étnica, religiosa, física). Somos especiais e diferentes. Temos todos, crianças, jovens e adultos, necessidades educacionais e afetivas especiais, temos direito a uma vida digna, direito de sermos valorizados em nossa forma de viver, de trabalhar e de aprender. Fala-se, por vezes, em inclusão como a justiça de uma escola igual para todos. O que gera ansiedade em pais e professores, como se observa no relato abaixo: C. é amigo e camarada. Parece infantil. Os colegas de aula riem dele algumas vezes. Tem déficit de atenção e com isso problemas de aprendizagem. A família é muito preocupada. Ele possui uma irmã que é um ano mais nova e está na sua frente na escola. Segundo a mãe, ele é igual ao pai, que em sua época estudantil não foi compreendido criando aversão pela escola. A mãe diz que não quer que isso se repita com o filho. O C. não anota as atividades na agenda, copia pela metade, tem muita dificuldade de concentração, tem desempenho baixo em três matérias no segundo bimestre. Sinto-me incapacitada em lidar com esse déficit de atenção e preciso estudar mais do que tenho estudado. Ele é muito acessível. Meu objetivo é conhecê-lo melhor e ajudá-lo (Supervisora). Os adultos estão presos a processos uniformizadores e temem o diferente. Nem os pais, nem os professores de C. sabem lidar com seu jeito diferente de ser na escola, com seu tempo diferente dos outros de fazer as tarefas, buscando imediatamente causas ou “nomes” para sua diferença. Ao não saber lidar com as diferenças dos alunos, cada vez mais, pais e escolas rotulam crianças e jovens como “hiperativos”, “desatentos”, “lentos”, “desinteressados” - porque não se enquadram nas normas, nos tempos, nas regras impostas pelos adultos, que nem sempre levam em conta idades, interesses e possibilidades. São tantos os procedimentos arcaicos e uniformizadores na escola, que já nem mesmo os percebemos, tais como: - o uso do quadro de giz - que determina o tempo de ler, de copiar, de fazer as tarefas “para todos” (há muitas crianças que não conseguem acompanhar e são consideradas “lentas” - serão elas “lentas” ou as outras “rápidas”? Não é natural que assim seja?); - as explicações únicas para todos os alunos, mesmo que alguns já entendam os exercícios feitos ou que estejam sendo corrigidos (como exigir atenção ou concentração se a necessidade da explicação não existe? Terão vários alunos as mesmas dúvidas, ao mesmo tempo, a ponto de 30 crianças permanecerem atentas durante um longo tempo?) - as filas para entrada nas salas de aula e passeios (não é subestimar a capacidade de crianças e jovens serem educados a andar em grupos sem a “militarização” ainda imposta nas escolas? Não é discriminação as crianças mais altas sempre serem as últimas a entrar?) Muitas práticas arcaicas como essas permanecem sendo reproduzidas nas escolas com a justificativa de serem justas, uma vez que os alunos sempre foram/são tratados em “igualdade de condições”. Decisões avaliativas são pautadas pelos “melhores alunos” com base em tais critérios comparativos sem que se tome consciência das injustiças feitas. Ao comentar a reprovação de um aluno pela não-realização de tarefas escolares ao longo do ano (e não por dificuldades na aprendizagem), a supervisora de uma escola explicou-me o caso como uma questão de justiça para com os outros alunos. Qual seria a injustiça cometida em relação aos outros jovens com a aprovação do colega? A verdade é que a escola teme ser considerada menos exigente pelas famílias ao promover um estudante que foi descomprometido com suas tarefas. A decisão da escola se baseia nas regras estabelecidas para todos - se o estudante não as cumpriu, é preciso, então, aplicar-lhe alguma punição. O fato de o aluno aprender mesmo sem cumprir “as regras” (ou seja, de jeito diferente) não entra em discussão, porque, sobretudo, não se pode fugir às regras. No discurso pedagógico, a escola propõe-se a construir crianças e jovens pensantes, que saibam tomar decisões inteligentes, entre outras expectativas. Nas práticas diárias, no entanto, restringe, apaga, recolhe as singularidades, faz um “arrastão” nas diferenças, nas subversões ou atos de rebeldia. Suspende, expulsa, remaneja, aprova, desaprova, matricula novamente... (Rosa in Meyer e Soares, 2004, p.29). Há uma preocupação extrema da escola em padronizar ações, em estabelecer regras comuns a todos, em definir critérios quantitativos, objetivos e precisos. E nessa preocupação encontram-se as raízes da maioria das injustiças e das arbitrariedades. A virtude da regra reside na sua precisão. Mas ela apresenta duas limitações. A primeira: não há regras para todas as situações pelas quais passamos. A segunda: a regra nos diz o que fazer, mas não “por que fazê-lo”. Estas duas limitações são superadas pelos princípios. Se os princípios morais forem claros, não será necessário formular tantas regras (La Taille, 2001, 2006). Muitas vezes as escolas causam sérios prejuízos à vida dos estudantes apenas para obedecer determinados padrões, uniformizações, regras impostas em regimentos ou documentos oficiais, sem pensar que estão ferindo os princípios da dignidade, da liberdade, da felicidade do aluno. Isso não pode ser considerado justo, nem moralmente defensável. Segundo o autor, a justiça é a virtude central para o agir moral. O professor precisa atender a todos os alunos com base no princípio da igualdade de direitos. Mas ser justo não é oferecer uma escola igual para todos (o que acaba acontecendo em programas de inclusão) e, sim, garantir condições dignas de aprendizagem a cada um, valorizando suas diferenças. Condições dignas envolvem um atendimento individualizado a partir da compreensão pelos educadores da história de cada aluno e das necessidades e dos jeitos de ser de cada um. O que nos remete ao significado próprio da palavra diversidade. Diversidade tem sua origem em divergir, afastar-se progressivamente dos limites fixos e precisos, discordar, discrepar, questionar padrões, buscar a diferença. Uma educação inclusiva somente se efetiva, no contexto próprio da alteridade, da variabilidade e flexibilidade de posturas educativas frente a cada contexto. Não se pode pretender uma escola inclusiva que se determine por ações educativas padronizadas ou regras gerais e inflexíveis. Para se pensar em escola inclusiva é preciso não ter medo de inovar, de reconstruir as práticas educativas e avaliativas. Compreendendo os diferentes jeitos de viver e de aprender de cada aluno, retirando-os do “anonimato das salas de aula” em que hoje vivem, estaremos propondo espaços e tempos educativos adequados às suas possibilidades cognitivas e às suas necessidades afetivas. Significa compreendê-los e valorizá-los no que apresentam de único e peculiar como aprendizes e atendê-los com base nesse conhecimento, oferecendo-lhes melhores e mais significativas oportunidades de aprendizagem no ambiente escolarizado. Outras virtudes devem acompanhar a justiça. Só ser justo não basta. Muitas vezes, deixamos de ser justos porque nos falta coragem para defender o aluno das injustiças ou para evitá-las. Sabemos o que deve ser feito, mas não transgredimos as regras, o padrão, porque exige muito esforço e renúncia. Porque ser justo exige também generosidade – de oferecer atenção ao aluno, de “dar a outrem o que lhe falta” (La Taille, 2001, p.88). Exige a virtude da humildade: nos dispormos a dialogar, admitindo que o aluno pode ter idéias próprias, ter vontades, fazer reclamações. E exige a virtude da tolerância: o respeito à diversidade de de crenças, de raças, de jeitos de aprender. Leonardo, de 16 anos, alto, forte, grandão, cresceu e sentiu necessidade de sair do uniforme da escola. Passou a se vestir como roqueiro: calças rasgadas, pulseiras, cabelos pintados, piercings, cruz no pescoço, como seus amigos da escola, então, tudo mudou na escola: diz que a escola não entende isso, que ele foi aceito desde pequeno, enquanto era igual a todo mundo. (...) que a escola foi fazendo ele tirar as coisas que ele gosta de usar, só ficou mesmo a tatuagem. (...) Quanto à briga com o colega, sabe que agiu errado, que admitiu isso em seguida, mas que, se qualquer outro aluno “uniformizado” tivesse brigado, o tratamento do assunto seria diferente. Que após a briga, a escola o trocou de turma, que ele se sente sozinho e sem colegas. Leonardo diz que não tem vindo mais às aulas há duas semanas, que não tem mais condições de vir, que tem passado as noites numa casa de jogos eletrônicos ou em frente à televisão, em casa (Rosa in Meyer e Soares, 2004, p.27). A par das transformações que ocorrem diariamente, em todos os lugares, a escola ainda organiza o seu cotidiano com práticas de fixar, adaptar e modelar corpo e pensamento, desde a infância. Mesmo assim, crianças e jovens resistem a tais processos de padronização de comportamento, enviando mensagens de diferenciação por meio do uso de piercings, de sons, de roupas diferentes, de estilos e outras formas que a escola insiste em rejeitar e estigmatizar. Poderíamos perguntar: quem professores e professoras pensam que crianças e jovens estudantes são? Que querem que sejam? Como endereçam seus currículos e aulas? Em contrapartida, podemos perguntar: a quem crianças e jovens estudantes endereçam suas ações, suas mensagens e códigos? (op. cit., p. 28) É de outra concepção de justiça que se precisa falar: a justiça de valorizar as diferenças, de desejar, principalmente, que os alunos pensem de maneiras diferentes, de pensar de jeito diferente sobre os alunos, de buscar meios de dialogar com eles, de inventar estratégias pedagógicas diferentes diante das encruzilhadas. Principalmente é preciso desejar ser um professor, uma professora diferente a cada dia a partir do que aprender com tudo isto.

http://www.jussarahoffmann.com.br/site/artigo.asp?id=4&pagina=1

Entrevista com Rosita Edler Carvalho, autora do livro Escola inclusiva: a reorganização do trabalho pedagógico, Editora Mediação, 2008

Rosita é autora dos livros "Educação inclusiva: com os pingos nos is", "Escola inclusiva: a reorganização do trabalho pedagógico", "Removendo barreiras para a aprendizagem: educação inclusiva" e "Uma promessa de futuro: aprendizagem para todos e por toda a vida".

Qual os principais pontos abordados pelo livro “Escola inclusiva”?

Para responder à indagação recorri ao próprio livro, reexaminei o sumário e revivi toda a construção do texto, somando as emoções de expressar idéias e experiências com a alegria da produção teórica. E identifiquei alguns pontos que se destacaram, tais como as reflexões do primeiro capítulo que trata das diferenças, para além da diversidade.

Creio que a apresentação da CIF (classificação internacional da funcionalidade) é outro aspecto que o livro traz, contrapondo o modelo social de compreensão da deficiência ao modelo médico de categorização de patologias com os estigmas decorrentes.

Mas, o que considero extremamente importante são as constantes alusões à pesquisa, uma prática que não faz parte, ainda, da cultura das escolas, e que, espera-se, passem a constituir-se em estratégia indispensável para que o trabalho pedagógico de orientação inclusiva possa ser reorganizado, sem romantismos, alicerçado na ‘leitura’ da realidade em seu constante vir-a-ser.

De que forma a educação atual pode se tornar mais inclusiva?

Sem pretender fazer um jogo de palavras, mas valendo-me delas, penso que a forma de tornar a educação atual mais inclusiva é incluir todos e todas nas reflexões sobre o quê falamos quando nos referimos à inclusão. Dizendo de outro modo, creio que estamos todos e todas: educadores, pais, irmãos, comunidade, convidados a pensar no que se pretende nas escolas de orientação inclusiva, isto é uma escola para todos, uma escola que concretize uma promessa de futuro, sem delongas. Entendo que essas reflexões que envolvem a cultura, a política e as práticas pedagógicas devem (ou deveriam) anteceder aos movimentos com os aprendizes.

Qual é, na sua opinião, a maior dificuldade encontrada hoje para que as escolas adotem uma postura inclusiva com relação à educação?

A maior dificuldade é romper com o estatuído, com o que, historicamente, vem sendo praticado. Inclusão é processo e a escola é um espelho da sociedade na qual se insere. E a nossa, infelizmente, ainda está marcada pela desigualdade e por discriminações de toda a ordem. A maior dificuldade está no somatório de dificuldades, extremamente interrelacionadas, de tal modo que os desafios se agigantam em complexidade.

Nem todas as dificuldades se originam e podem ser resolvidas na e pela escola. Seria, no mínimo, ingênuo supor que assim fosse. Mas as barreiras para a aprendizagem e para a participação para as quais a escola pode contribuir, removendo-as, procuro assinalar no livro, sem a pretensão de esgotar todas as estratégias que podem levar as escolas a assumirem orientação inclusiva.

Qual o papel e a importância da pesquisa neste aspecto?

Numa pergunta anterior eu já havia feito alusão à importância da pesquisa como uma interlocução constante com a realidade que está sempre em movimento.

No caso da educação inclusiva, vejo a pesquisa como indispensável, para que coloquemos os pingos nos “is” na orientação inclusiva que nossas escolas, pretendem assumir, evitando-se a lamentável constatação dos grupos de “inclusos”- como são chamados por alguns professores quando se referem a alunos oriundos de classes e escolas especiais-, presentes nas turmas do ensino regular e que estão à parte. Tratam-se nesses casos de núcleos de reclusão, gerando-se a exclusão na inclusão, talvez uma das mais perversas formas de segregação.

Também precisamos pesquisar a natureza dos liames sociais entre colegas, pois sem integração entre as pessoas a inclusão será simplesmente inserção.

http://www.jussarahoffmann.com.br/site/artigo.asp?id=15&pagina=1

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Todos são capazes sim !!

"O indivíduo pode,assim,ter uma deficiência,mas isso não significa necessariamente que ele seja incapaz.A incapacidade poderá ser minimizada quando o meio lhe possibilitar acessos."
                                                               

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Várias leis e documentos internacionais estabeleceram os Direitos das pessoas com deficiência no nosso país. Confira alguns deles

1988
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
Prevê o pleno desenvolvimento dos cidadãos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação; garante o direito à escola para todos; e coloca como princípio para a Educação o “acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”.

1989
LEI Nº 7.853/89
Define como crime recusar, suspender, adiar, cancelar ou extinguir a matrícula de um estudante por causa de sua deficiência, em qualquer curso ou nível de ensino, seja ele público ou privado. A pena para o infrator pode variar de um a quatro anos de prisão, mais multa.
1990
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA)
Garante o direito à igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola, sendo o Ensino Fundamental obrigatório e gratuito (também aos que não tiveram acesso na idade própria); o respeito dos educadores; e atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular.
1994
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA
O texto, que não tem efeito de lei, diz que também devem receber atendimento especializado crianças excluídas da escola por motivos como trabalho infantil e abuso sexual. As que têm deficiências graves devem ser atendidas no mesmo ambiente de ensino que todas as demais.
1996
LEI E DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL (LBD)
A redação do parágrafo 2o do artigo 59 provocou confusão, dando a entender que, dependendo da deficiência, a criança só podia ser atendida em escola especial. Na verdade, o texto diz que o atendimento especializado pode ocorrer em classes ou em escolas especiais, quando não for possível oferecê-lo na escola comum.
2000
LEIS Nº10.048 E Nº 10.098
A primeira garante atendimento prioritário de pessoas com deficiência nos locais públicos. A segunda estabelece normas sobre acessibilidade física e define como barreira obstáculos nas vias e no interior dos edifícios, nos meios de transporte e tudo o que dificulte a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios de comunicação, sejam ou não de massa.
2001
DECRETO Nº3.956 (CONVENÇÃO DA GUATEMALA)
Põe fim às interpretações confusas da LDB, deixando clara a impossibilidade de tratamento desigual com base na deficiência. O acesso ao Ensino Fundamental é, portanto, um direito humano e privar pessoas em idade escolar dele, mantendo-as unicamente em escolas ou classes especiais, fere a convenção e a Constituição
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
Prevê o pleno desenvolvimento dos cidadãos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação; garante o direito à escola para todos; e coloca como princípio para a Educação o “acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”.

 Revista Nova Escola, Edição Especial | Agosto 2007

http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/inclusao-no-brasil/leis-diversidade-424523.shtml?comments=yes

Lição de vida



Portar uma necessidade especial não significa ser incapaz, simplesmente mostra que sendo diferente também há como ser feliz!!!!!!!!

Nunca Subestime um Síndrome de Down


Para aprender a incluir

Programas do MEC fornecem recursos e formação para facilitar a inclusão de crianças com necessidades educativas especiais



Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade
O que é
Formação de professores para disseminar a política de educação inclusiva. Profissionais dos chamados municípios-pólo participam do treinamento e atuam como multiplicadores, repassando as discussões para os colegas de cada cidade.
O que já fez
Cursos em 162 municípios-pólo com a formação, em 2008, de 12.708 professores em todo o Brasil.

Programa de Formação Continuada de Professores na Educação Especial – modalidade à distância
O que é
Especialização, extensão ou aperfeiçoamento para professores da rede pública, oferecidos por uma rede nacional de instituições públicas de educação superior.
O que já fez
Cursos para 8.500 professores, em 2008, ministrados em 18 instituições públicas de educação superior.
Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais
O que é
Fornece materiais pedagógicos, equipamentos e móveis para o atendimento educacional especializado.
O que já fez
Criou, entre 2005 e 2008, 5.551 salas.
Programa Escola Acessível
O que é
Aloca recursos para a adequação de prédios escolares para a acessibilidade.
O que já fez
Investiu R$ 30,8 milhões em 2007 e 2008 para a adaptação dos edifícios.
Programa BPC na Escola
O que é
Monitoramento do acesso e da permanência na escola dos alunos com deficiência na faixa etária de 0 a 18 anos que são beneficiados pelo programa Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC).
O que já fez
Desde 2006, cruza os dados de matrículas com os de beneficiários do BPC. Os números mostram que, em 2009, cerca de 70% dos portadores de deficiência com idade entre 0 e 18 anos atendidos pelo programa estão fora das escolas.

Revista Nova Escola, Julho de 2009.

http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/inclusao-no-brasil/aprender-incluir-programa-mec-482189.shtml

Inclusão promove a justiça

Para a educadora Maria Teresa Égler Mantoan, na escola inclusiva professores e alunos aprendem uma lição que a vida dificilmente ensina: respeitar as diferenças. Esse é o primeiro passo para construir uma sociedade mais justa



Maria Teresa Eglér Mantoan. Foto: Caca Bratke

MARIA TERESA EGLÉR MANTOAN  "Estar junto é se aglomerar com pessoas que não conhecemos. Inclusão é estar com, é interagir com o outro".


Uma das maiores defensoras da educação inclusiva no Brasil, Maria Teresa Mantoan é crítica convicta das chamadas escolas especiais. Ironicamente, ela iniciou sua carreira como professora de educação especial e, como muitos, não achava possível educar alunos com deficiência em uma turma regular. A educadora mudou de idéia em 1989, durante uma viagem a Portugal. Lá, viu pela primeira vez uma experiência em inclusão bem-sucedida. "Passei o dia com um grupo de crianças que tinha um enorme carinho por um colega sem braços nem pernas", conta. No fim da aula, a professora da turma perguntou se Maria Teresa preferia que os alunos cantassem ou dançassem para agradecer a visita. Ela escolheu a segunda opção. "Na hora percebi a mancada. Como aquele menino dançaria?" Para sua surpresa, um dos garotos pegou o colega no colo e os outros ajudaram a amarrá-lo ao seu corpo. "E ele, então, dançou para mim." Na volta ao Brasil, Maria Teresa que desde 1988 é professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas deixou de se concentrar nas deficiências para ser uma estudiosa das diferenças. Com seus alunos, fundou o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade. Para ela, uma sociedade justa e que dê oportunidade para todos, sem qualquer tipo de discriminação, começa na escola.

Revista Nova Escola.  Edição 182 | 05/2005


http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/inclusao-no-brasil/maria-teresa-egler-mantoan-424431.shtml

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Uma Educação mais que Especial

O método da Escola Favo de Mel, vinculado à Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), é desenvolvido com base em um tripé: ESCOLARIDADE, LUDICIDADE E TRABALHO. Levando em conta que na Educação Especial a socialização dos alunos é considerada o ponto-chave do processo ensino-aprendizagem, o item trabalho tem a função de inserir a criança e o adolescente em cursos profissionalizantes.
Por Jaciara Moreira


"Aqui nesta escola é permitido: combater preconceitos, admitir diferentes maneiras de ver o outro e ensinar a felicidade".
A mensagem afixada logo na entrada da Escola Especial Favo de Mel, em Quintino, subúrbio carioca, dá uma dica do que se encontra lá dentro. Nessa escola é permitido romper limitações. Em paralelo aos métodos de alfabetização, os professores utilizam arte, esporte, teatro, dança e cursos profissionalizantes para inserir na sociedade criaças e adolescentes com necessidades educacionais especiais.
"É a Educação pelo trabalho.Desenvolvemos oficinas que buscam a autonomia dos alunos e que dêem a eles condições de frequentar cursos profissionalizantes convencionais", explica Cristina, acrescentando que entre as oficinas oferecidas pela escola estão informática, cartonagem, culinária, marcenaria e encardenação.
"O papel da família é muito importante na educação especial. Os pais devem acreditar nos seus filhos. O sucesso desse tipo de educação depende de várias questões, entre elas a participação da família. Por isso, fazemos questão de abrir um espaço para os pais aqui", comenta a diretora da escola.



Reportagem exibida no Suplemento Comemorativo do Jornal Educar em comemoração aos seus dez anos.

http://www.appai.com.br/Jornal_Educar/jornal29/educacao_especial/especial.htm

domingo, 11 de outubro de 2009

A experiência de Matheus: Um aluno autista na escola

Inclusão Escolar


Data da reportagem 10 de maio de 2008

DEFICIÊNCIAS

 Mário Quintana

"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.

"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.
"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
"Diabético" é quem não consegue ser doce.
"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.

E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:
"Miseráveis" são todos que não conseguem falar com Deus.
"A amizade é um amor que nunca morre.

"http://mais.uol.com.br/view/e8h4xmy8lnu8/deficiencias--mario-quintana-0402356CD4890346?types=A&

Instituto Helena Antipoff

Referência em Educação Especial



                                                                                                                                                               Responsável pela educação especial da Rede Municipal de Ensino, o Instituto Helena Antipoff é considerado o único de referência na área em todo o país.

Criado há quase 31 anos, ele produz conhecimentos em educação especial e confecciona recursos multissensoriais que contribuem para a atualização permanente dos professores e desenvolvimento e aprendizagem dos alunos.
O IHA, com 67 profissionais, mantém nove oficinas para este fim: teatro, dança, música, informática, oficina vivencial de ajudas técnicas e pedagógicas, ginástica; artes plásticas e brinquedoteca.
Para quem não sabe quem foi Helena Antipoff: Ela foi professora e psicóloga e desenvolveu um trabalho pioneiro com educação especial no Brasil. Nascida na Rússia, em 1892, veio para o Brasil a convite do Governo de Minas Gerais, em 1929, para participar da reforma do ensino público mineiro. A reforma, inspirada no ideário da Escola Novista, previa a criação de um Instituto de Aperfeiçoamento de Professores, dedicado à formação de normalistas e com ênfase no ensino da Psicologia.
Em 1932, ainda em Minas, a professora Antipoff, acompanhada por um grupo de médicos, educadores e professores, fundou e presidiu a Sociedade Pestalozzi, para promover o cuidado das crianças excepcionais.
Considerando a escola a melhor saída para todos os males, Helena Antipoff dedicou sua vida à educação das crianças. Sempre defendeu o conceito de inteligência inovador para sua época, considerando fatores socioculturais no desenvolvimento mental.

Helena Antipoff morreu em 1974, em Belo Horizonte.

O Instituto Helena Antipoff fica na Rua Mata Machado, 15, no Maracanã.

http://www.rio.rj.gov.br/sme/leia_tambem/iha.htm

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Inclusão Escolar: do que se trata?

Há alguns anos trabalhando com inclusão escolar de crianças com problemas no desenvolvimento, o Projeto Incluir vem discutindo essa prática que cresce a cada dia. A escola regular muitas vezes “inclui” um aluno com necessidades educacionais especiais sem alguns cuidados, em nome de uma lei que fala que todos têm direito à educação.


Colocar uma criança com graves problemas numa sala de aula regular é algo a se fazer com cautela. Quando falamos em inclusão escolar não se trata apenas de reunir impreterivelmente os diferentes, proporcionando um ensino igual para todos, o que leva, paradoxalmente a uma tentativa de normatizá-los para que convivam numa mesma sala.

Incluir uma criança “diferente” na escola regular significa proporcionar a todos os alunos o aprendizado de conviver com a diversidade, sem anulá-la. Experiência esta que faz parte de toda cultura, de qualquer sociedade. Isto quer dizer o que? Que não é possível apagar as diferenças, inclusive no que diz respeito ao aprendizado. Portanto, a inclusão como imaginamos e idealizamos não é a mesma que vemos na prática.(...)

A palavra Inclusão não significa promover a adequação ou a normatização de acordo com as características de uma maioria, seu significado está mais próximo à possibilidade de fazer parte, conviver e não se igualar. Portanto, é com grande cautela que devemos levantar a bandeira da inclusão escolar de crianças com graves problemas de desenvolvimento. Ao invés de tomarmos o assunto partindo de um ideal, do que diz a lei, é mais apropriado levar em consideração a própria criança, verificar o problema que ela apresenta e a partir daí avaliar a maneira de ingressá-la numa ou noutra sala de aula.(...)

Renata Abbamonte

http://www.netpsi.com.br/artigos/060405_inclusao.htm